Aqui vai um desafio: O que é Ampelografia?

No ano de 1994, no Chile, uma descoberta revolucionou o mundo do vinho. Os chilenos cultivavam a uva merlot, produziam muitos desses vinhos e possuíam inúmeros vinhedos desta variedade. Foi quando um profissional intitulado ampelógrafo, no uso de seus conhecimentos científicos e técnicas contemporâneas, descobriu que não se tratava da uva Merlot, mas sim da uva Carmenère, considerada praticamente extinta na grande maioria dos países produtores.

Que susto, hein?! Tudo por causa dessa tal Ampelografia. Vamos conhecê-la melhor? Mas saibam…  os chilenos deram a volta por cima.

Não existem muitos profissionais ao redor do mundo formados nessa disciplina um tanto singular, ou até mesmo inusitada.

Ampelografia é uma disciplina da Agronomia que estuda, identifica e classifica as variedades das videiras. O profissional dessa área é intitulado Ampelógrafo e seus trabalhos complexos fundamentam-se nas características das folhas, dos cachos das uvas, suas formas, colorações e na estrutura dos rebentos. Também pesquisam o perfil genético das castas, sustentados em estudos de DNA das uvas, que também são aplicados nos futuros registros de uma determinada variedade.

Para se registrar uma casta, a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIVV), adotou quase 90 descritos que devem ser adquiridos em estudos morfométricos completos. Existem mais de 5000 diferentes castas de uvas classificadas como Vitis Viníferas – que são as espécies de uvas adequadas para produção de vinhos – e mais de 10000 são cultivadas pelo mundo afora.

O ampelógrafo francês Jean-Michel Boursiquot esteve no Chile em 1994, para participar de um evento técnico, e reconheceu os vinhedos de Carmenère em meios aos de Merlot. Os viticultores chilenos sempre elaboravam seus vinhos como se fossem produzidos com a uva Merlot e jamais imaginavam que se tratava de Carmenère.

É claro que os viticultores chilenos ficaram bastante frustrados. Afinal, todo trabalho empregado no Marketing de seus produtos causou um impacto desfavorável aos seus negócios. Mas souberam aproveitar a oportunidade e transformaram o episódio em uma conjuntura favorável e seus Carmenère tornaram-se ícones apreciados por todo mundo. Além disso, reconquistaram o prestígio de uma casta que era considerada, antes da suposta extinção pela Filoxera – praga que quase dizimou os vinhedos europeus na metade do século XIX – a responsável pela produção de grandes vinhos de Bordeaux na França.

Os vinhedos de Carmenère no Chile são os maiores do mundo. Sua área cultivada tem aproximadamente 8000 hectares. Esta variedade possui grande potencial de adaptação e desenvolvimento naquele país. É uma espécie de difícil cultivo e seu manejo depende de pessoal especializado e dedicação constante por parte dos viticultores.

Graças ao trabalho dedicado e minucioso, preciso e detalhado de engenharia genética, o Ampelógrafo Boursiquot analisou a fundo a espécie de Merlot chilena que insistia em amadurecer tardiamente nos parreirais daquela região. Assim, resgatou a variedade originária de Bordeaux, que provavelmente chegou ao Chile misturada a outras espécies de mudas importadas por aquele país andino.

Hoje a Carmenère assume papel emblemático no Chile. Que a Ampelografia deu uma mãozinha para este destaque, não resta a menor dúvida. De um limão que parecia demasiadamente azedo, eles deram a volta por cima e fizeram uma disputada limonada.

Muitos vinhos chilenos desfrutam de qualidade renomada. O que precisamos é dar uma boa peneirada no mercado. São vinhos muito interessantes. Com toda certeza, a descoberta de Boursiquot colocou o Chile no topo do mundo, ou deu um bom empurrão na produção dos melhores e mais famosos vinhos do Novo Mundo.

Tenho certeza que essa você já sabia.

Mas, valeu relembrar! É sempre bom nos encontrarmos por aqui para abordarmos bons assuntos.

Principalmente quando esse assunto é vinho.

Um brinde aos nossos encontros…  a nossa alegria…

SAÚDE!!!


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