A colheita das uvas é sempre um período muito especial. Porém, este ano, as preocupações são muito grandes. Um verão quente e seco em toda Europa e os elevados custos sobre todo setor de produção vinícola está exercendo um enorme impacto nos preços dos vinhos. E isso desagrada aos apreciadores dos vinhos do Velho Mundo. E nós também estamos nessa.

A videira é uma espécie de planta muito dinâmica e capaz de se adaptar a solos pobres e escassez de água. Entretanto, quando esse período de seca se estende demais, ela passa por um fenômeno denominado “estresse hídrico” e isso causa um declínio na produção e enormes dificuldades no amadurecimento das uvas.
Rapidinho, aqui vai um breve e simples resumo. Um longo período de seca restringe a biossíntese dos ácidos orgânicos e taninos além de afetar e reprimir a formação e desenvolvimento dos frutos, a maturação e pleno amadurecimento. Consequentemente, limita o teor de açúcar das uvas e a biossíntese de antocianinas, que asseguram a coloração dos frutos.

Esses fenômenos divergem de uma variedade de uva para outra e o tipo de solo também interfere nesse processo. Solos argilosos possuem maior capacidade de reter água e permite ótima absorção, embora lentamente. Solos pedregosos, por exemplo, drenam a água com maior facilidade. Cada variedade se comporta de forma diferente perante um estresse hídrico para garantir a realização da fotossíntese.
A seca assola os vinhedos europeus e complica a vinicultura. Porém, de acordo com os relatos dos especialistas em fisiologia das videiras, mesmo que venha a chover nessa época do ano ou mesmo possam os viticultores adotarem o sistema de irrigação emergencial, que é permitido pela legislação, isso não permitirá recuperar o que já está perdido. Os reflexos virão na safra futura e os preços dos vinhos estarão propensos a novas altas.

Na Itália, as alterações climáticas afetam todo o setor agrícola. Mesmo assim, a colheita já começou em várias regiões sob um verão tórrido. Os primeiros cachos da safra 2022 já foram colhidos na Sicília, em Franciacorta e é notória a redução de pelo menos 10% na produção devido à seca e o forte calor que perdura acima de 40 graus. Evidentemente, esse ambiente não é adequado para que as videiras possam frutificar de forma satisfatória.
As chuvas da primavera europeia não regaram a terra de modo significativo. Tanto que evaporaram logo que tocavam o solo. Agora as videiras exigem do solo uma quantidade considerável de água, não só para manter-se, mas também, para alimentar os cachos que a planta produziu. Isso está exigindo o máximo de zelo de todos os profissionais da cadeia produtiva.
Contudo, é esperada uma safra de ótima qualidade. Agora, a torcida é muito grande para que não ocorra temporais e chuvas de granizo com resultados desanimadores sobre a produção apurada.

Com o início das colheitas na Itália é dada a partida no sistema de trabalho que oferece oportunidades para mais de um milhão e trezentas mil pessoas em atividades diretas em vinhedos, comercialização, distribuição, adegas, hotéis, restaurantes e diversos serviços relacionados ao vinho e à gastronomia. Muitos atravessam as fronteiras e depois dos trabalhos realizados retornam aos seus países.
É uma atividade dinâmica que traduz a cultura e a essência de um mercado que compreende muito além das fronteiras europeias. Porém, um ano atípico, que além dos transtornos climáticos, os custos de produção assinalam um crescimento exponencial alavancado pela guerra na Ucrânia. Desde as matérias primas, como garrafas de vidro que subiram mais de 30%, tampas, rolhas de cortiça até 40%, rótulos, entre muito outros materiais, sem mencionar o transporte rodoviário que subiu mais de 25% e os custos de frete de contêineres e cargas marítimas que atingiram um aumento descomunal entre 400% a 1000%.
Infelizmente, tudo isso refletirá nos preços dos vinhos que ainda não temos noções exatas de seus limites.

Em outros países tradicionais na elaboração de grandes vinhos, como Portugal, Espanha e principalmente a França, a seca, o calor e os incêndios causaram danos expressivos à produção vinícola. Porém, em todo território francês, as videiras estão respondendo bem a esses fenômenos e estão mostrando que são plantas resilientes. Mas, a maior preocupação dos franceses não é tanto o calor, mas sim, a falta de água. As chuvas são insuficientes para a agricultura desde o início do ano. Nessas condições, os profissionais franceses adotam uma regra de emergência que é o “desbaste dos cachos”. É uma forma de reduzir as necessidades de cada planta. Porém, em geral, os bagos ou frutos continuarão a ser menores e não atingirão o desenvolvimento desejado. Isso varia de acordo com cada casta e a Cabernet Sauvignon é uma variedade que sofre mais com as altas temperaturas.

Vale ressaltar que o calor aumenta a concentração de açúcares das uvas e consequentemente, o teor alcoólico. E nesse ambiente de estresse hídrico a elevada concentração de açúcar o teor alcoólico não poderá superar os 15°, porque acima dessa graduação, os açúcares não fermentam. Por isso, é fundamental a decisão dos profissionais quanto ao momento exato para colheita. Eles trabalham incansavelmente entre os vinhedos, efetuando levantamentos técnicos, pesquisas e testes na busca do momento exato da vindima.
É por isso que as condições do clima ao longo do ano são fatores fundamentais para alcançar uma qualidade elevada que agrade tantos os produtores quanto ao público apreciador. As decisões do produtor fazem a diferença.

Infelizmente a seca, o calor e os elevados custos de produção refletirão nos preços dos maravilhosos vinhos do Velho Mundo.
Permaneceremos na torcida para que outras compensações se manifestem para ocorrer um equilíbrio nos preços finais dos vinhos.
Também, não deixa de ser uma oportunidade excelente para apreciarmos mais os vinhos nacionais que possuem qualidade extrema.
Afinal, temos que nos reunir e não pode faltar um ótimo vinho para brindar com os amigos sempre juntos.
Um brinde a nossa amizade, a nossa união,
SAÚDE!!!
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